28 fevereiro, 2017

AS FOGUEIRAS AINDA ARDEM

Por:
José Medeiros
Regional ALAGOAS
In memoriam













Muitas comemorações em torno da fogueira, alegria, muita cachaça e outras águas mais ou menos ardentes; de repente, num ímpeto irresistível, ela – uma bela jovem – jogou na fogueira pistolões, busca-pés e bombas que trazia nas mãos. Labaredas gigantescas surgiram da fogueira e atingiram seu rosto, braços e tórax. Dores lancinantes, gritos agudos. Foi levada às pressas ao Hospital de Pronto Socorro com graves queimaduras; sua vida corria perigo.

Fui procurado pela família da paciente, pois ela havia sido minha cliente em tempos passados. Insistia em ver-me. Impressionei-me com o aspecto das lesões. A família desejava saber se era necessária sua transferência para outro hospital. Desaconselhei a remoção; tudo o que se podia fazer estava sendo feito. Lembrei-me de sua vaidade e beleza. Formara-se em Psicologia, mas não exercia a profissão; tornou-se gerente de uma grande empresa. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas vinha alterando seu comportamento. Agora, no leito do hospital, culpava-se pelo acidente provocado, preocupada com as conseqüências de seu gesto de irresponsável arrebatamento.

Dúvidas assaltavam seu espírito. Seria esse o seu destino? Estaria escrito que esse acidente faria parte da história de sua vida? Os conselhos da família tinham sido em vão. Embriagara-se no prazer de viver em toda a plenitude, sem limites; largara deveres religiosos e familiares. Julgava-se elegante, saudável e bem remunerada; o resto pouco lhe importava. Naquele momento, estava acometida por um estranho medo, medo e remorso. Quase destruíra sua vida num ato inconseqüente. Havia estado cega pelo orgulho, imersa num período no qual predominara uma fogueira de vaidades.

Procurei acalmá-la. Perguntei onde estavam a coragem que sempre demonstrara, o poder de reação, a vontade de vencer obstáculos e transtornos da existência. O que lhe acontecera poderia servir de incentivo para recomeço de uma nova vida. Afirmei que há sempre um momento de verdade na trajetória de cada um de nós. Ela me respondeu que sentia a alma esvair-se do corpo. Perdera a vontade de viver.

Foi bem longo o período de sua recuperação. Depois da alta do hospital conseguiu, na empresa, transferência para Recife. Perdi-a de vista. Vez por outra, seus familiares davam-me notícias dela. Estava bem, fizera plásticas e tratamentos especializados. Na  força espiritual, encontrara meios de vencer os sofrimentos.      

Anos se passaram. Reencontro-a e quase não a reconheço. Estava sorridente, autoconfiante e vestida no fino da moda. Cicatrizes, entretanto, eram visíveis. Explicou-me, que além do emprego, dedicava-se a uma obra social: cuidava de pessoas que apresentavam extensas cicatrizes de queimaduras e de jovens que se perdiam no alcoolismo precoce, nas drogas e na violência.

Estava feliz. Fizera de sua vida um ato de compromisso com pessoas sofridas, a quem já faltavam esperanças de futuro. Enfim, tentava apagar fogueiras que ainda ardiam em corpos e almas de seus semelhantes.


27 fevereiro, 2017

LAURO MAIA - UM POETA QUE TAMBÉM É RUA

Por:
José Maria Chaves
Regional CEARÁ

















"Deus reprova os arrogantes
Pois, para engano de alguns,
Sempre esconde os diamantes
Entre as pedras mais comuns."

Pois bem, com esta trova desejo retratar Lauro Maia Teles - como poeta e compositor – senão a nossa maior expressão litero-musical, seguramente, um lapidado e burilado diamante, postado de forma humilde entre grosseiras pedras.

Lauro Maia nasceu na casa de nº 1966 do Boulevard Visconde de Cauype, atual Avenida da Universidade, em 06 de setembro (Cartório João de Deus) ou 06 de novembro (Verbum ad Verbum) do ano da Graça de 1913. Filho do odontólogo Antônio Borges Teles e da professora de piano Laura Maia Teles.

Seu aprendizado musical certamente se inicia no berço, com sua mãe e, já aos 10 anos de idade, vestindo calças curtas, substituía o pianista oficial do Cine Majestic. Além de exímio ao piano, dedicou-se,outrossim, ao estudo da flauta e do acordeom. Como acordeonista foi o mais jovem integrante da orquestra da PRE-9 regida pelo maestro Euclides Silva Novo. Na pioneira emissora de radiodifusão do Ceará, logo assumiu o cargo de Diretor Artístico e já era um festejado compositor. Enquanto criança esteve matriculado no Colégio Marista e, adolescente,  transferiu-se para o Liceu onde cumpriu todo o resto da programação ginasial e do científico. A essa altura da vida, já era frequentador da roda boêmia de Fortaleza e, pelo menos duas vezes na semana, acompanhado do seu amigo e parceiro – notável violinista – Aleardo de Freitas, fazia serenatas, conquistando amores diferentes pelos desempenhos poéticos e românticos de suas composições.

Aos 25 anos, bacharelando em direito, compõe a “Valsa do Rubi” para a cerimônia de formatura que, disseram as línguas ferinas, não compareceu por haver esquecido a hora, enquanto festejava, em um bar, bebendo com alguns amigos.

Seu nome, já consagrado como compositor musical, letrista e arranjador, constou da lista negra dos Integralistas de Petrópolis, com vários outros cearenses ilustres, entre os quais o Dr. Bié eo Professor Cláudio Martins.

Em 1940, após dois anos de namoro, casou com Djanira, irmã de Humberto Teixeira (que, por residir no Rio de Janeiro, embora cearense de Iguatu, não o conhecia pessoalmente).Em junho de 1942 nasceu sua primogênita, Eva, e em dezembro de 1943 veio ao mundo Lauro Filho, já residindo na antiga Capital da República (Rio de Janeiro). De principio entregava suas composições para a interpretação e gravação pelos Vocalistas Tropicais e/ou 4 Ases e 1 Coringa. Dentre as muitas gravações do início, poderia citar o batuque “Eu vi um leão” e a marcha “ Eu sei o que é”, além dos sambas “Eis o meu samba” e “ Nosso cruzeiro”. Com os “Vocalistas Tropicais” – vitorioso e harmonioso conjunto cearense – lançou um novo ritmo,o balanço,com a música “Balancê” -“oi balancê, balança/balança pra lá e pra cá/ eu vou até de manhã só nesse balanciá”. Com o sambista Ciro Monteiro, deixou a composição “Deus me perdoe”, que foi gravada -“Deus me perdoe, mas levar esta vida qu’eu levo é melhor morrer...”.

Com Orlando Silva, o cantor das multidões, gravou muitos sucessos, tais como “Febre de Amor”, “Poema Imortal” e “Quando dois destinos divergem” – “Acaso poderás dizer qual de nós é o culpado/ e qual a razão de tudo ter desmoronado/ Nossa vida agora é um verdadeiro caos/ semeada de incrível solidão/ e pontilhada só de pensamentos maus...”.

Em 1942, volta a Fortaleza, conhece e integra a Escola de Samba, que foi batizada com o seu nome. É bom que frise: A Escola de Samba Lauro Maia foi criada pelo músico Canelinha, obviamente para conquistar o compositor que sempre abiscoitava o 1º prémio, disputando pela “Escola de Samba Prova de Fogo”. Em sua criação, a Escola de Samba Lauro Maia contava em suas fileiras com o também pianista e compositor Luiz Assunção. Desde a sua fundação até 1945 a Escola de Samba Lauro Maia sempre foi vitoriosa.  

Passada a época carnavalesca, Lauro volta ao Rio de Janeiro onde se emprega na Firma Irmãos Vitale – Editor de Música - e também foi contratado pela Rádio Tupi, como arranjador e orquestrador dos variados temas musicais dos seus programas de estúdio. Além desses dois estafantes encargos, ainda firmou expediente noturno – como pianista – com o Cassino Atlântico. Fumava muito, bebia em demasia e se alimentava pouco e mal. Confessava para seus amigos de boemia, especialmente Chiquinho da Lapa, seu quase irmão, que morria de saudades da sua terra. Com esse sentimento de ufanismo, compôs:“Eu bem sei que é bem nosso/ o orgulho de um gesto que eleva e seduz/ um gesto altaneiro de audaz jangadeiro/ mandando que todo navio negreiro/ passasse bem longe da Terra da Luz”.

Em 1947, ano de sua última visita a Fortaleza, já com a saúde gravemente abalada, os dois pulmões invadidos pela tuberculose, teve de retornar ao Rio para um internamento no Hospital Santa Maria em Jacarepaguá, famoso por recuperar pacientes tísicos. Debalde foram os esforços. No dia 05 de janeiro de 1950, por coincidência data do trigésimo quinto aniversário de Humberto Teixeira, às vinte horas e trinta minutos, Lauro Maia faleceu.

Em 1952 - e eu estava lá - o samba intitulado “Lauro” foi cantado e chorado por todos nós, no desfile de carnaval da Escola de Samba Luiz Assunção:

“Lauro, eu vim lhe homenagear
Ah, se você fosse vivo
Pra ver sua escola passar,
Oh Lauro!’’.


26 fevereiro, 2017

A NUVEM E EU

Por:
Michel Herbert Alves Florêncio
Regional MARANHÃO










A 10 mil pés, voando do norte ao sul do Brasil
neste imenso céu azul
consegui enfim extrair de ti, além das gotas da chuva,
a tua essência.

Notei-te tão pertinho de mim, ora homogênea, pura e límpida,
leve plenitude que segue, sem destino.
Ora densa, escura, informe e resistente ao vento, como eu.

Ora divinamente útil e até suficientemente sábia
para assim poder abrandar a ira do sol.
Ora revolta, uma verdadeira inversão do mar,
que deságua torrentes naufragando na terra,
culpados inocentes.

Tal qual a nuvem, multiforme em suas várias dimensões,
tento harmonizar na minha inquietude,
a terra, o mar e o céu,
em chuvas de versos em linhas de qualquer papel.

Assim como a nuvem, evaporo-me neste torrão
transpasso em muito ares sem perder jamais
de vista a minha missão.
Sou a própria substância em sentimentos
que inesperadamente se decompõe em gotas
trazendo refrigério ao mais ambíguo coração.
Está aí, enfim, a minha vocação.



25 fevereiro, 2017

CASAMENTO TROPICAL

Por:
Maria de Fátima Barros Calife Batista
Regional PERNAMBUCO
E-mail: facalife@uol.com.br












Estamos vivendo um tempo de mudanças bruscas, nos hábitos e correspondentes significados. Casar já não mais significa zelar pela perpetuação da espécie humana que por sinal, anda muito desacreditada de valores, dantes preservados. No reino animal, o homem foi o único agraciado com a racionalidade. Mas ao que parece, está regredindo no sentido contrário ao que seria de esperar quanto à evolução. A destruição galopante que promove, no planeta em que habita, e a violência desenfreada contra os semelhantes, não deixam dúvidas quanto ao futuro sinistro reservado aos sobreviventes.

Voltando ao tema do acasalamento, entre os animais cumpre-se um ritual de cortejo que precede o ato. De tanto tornar-se rebuscado o ritual humano passou a ser supérfluo. Não mais anuncia o início, ou reinício, das atividades sexuais, tanto nos casos de um primeiro casamento, quanto nos que põem fim à viuvez. Aliás, vale lembrar que o homem é o único entre os animais, que exerce o acasalamento, sem fins reprodutivos. Além da capacidade de raciocínio e elaboração de uma linguagem complexa, o homem foi beneficiado com o desejo sexual, independente do período da fertilidade feminina. Graças a ele, esse complemento da afetividade antecede a cerimônia ritualística, seja ela religiosa ou profana.
      
Pois bem, enquanto a biologia apostava nos métodos naturais de procriação, as mulheres apoiadas pelos parceiros, que hoje correm da paternidade como o diabo da cruz, deixaram de considerar o instinto maternal como prioridade. Entrou no mercado de trabalho com a determinação de alcançar a igualdade de direitos, pouco ligando para a sobrecarga que enfrentaria no futuro, quando a maternidade viesse a concretizar-se. Atualmente fala-se até em produção independente, em lugar da união compartilhada dos encargos, sejam eles divididos com pessoas diferentes ou iguais em gênero. Vale mais se garantir independência financeira antes de subjugar-se a uma união supostamente estável que muitas vezes se desfaz por motivos os mais banais. A prática de congelamento de embriões, e posterior seleção discriminativa são passíveis de processo e condenação, pelas normas da Bioética. Mesmo assim, são exercidas.
       
Todo este preâmbulo foi elaborado com a segunda intenção de relatar, a seguir, uma cerimônia matrimonial atípica. Pelas características do local escolhido, pela indumentária dos convidados, e os acepipes gastronômicos oferecidos, dei-lhe a alcunha de “Casamento Tropical”!
       
O convite, feito com a antecedência de apenas uma semana, surpreendeu os frequentadores de uma praia nordestina, restritos a uma faixa de uns cinquenta metros, onde o mar é protegido pelos arrecifes. Na fase de maré baixa, forma-se ali uma pequena baía, apelidada de “Aquário de Deus”. Lá, tubarão nenhum consegue encalhar! A casuística de mortes é alta, apenas porque esse pedaço da natureza é o preferido dos idosos do bairro. Vez em quando, alguém desaparece de cena. Se demorar um mês sem dar notícias, já se providencia uma missa para encomendar a provável transposição da alma penada. A figura mais carismática do local tem lugar cativo no banco de concreto, que estabelece o limite entre a calçada e a areia da praia. Fica situado ao lado de um quiosque, onde são comercializados cocos verdes, garrafas d’água, e outros produtos comestíveis. Pela assiduidade e liderança intelectual exercida, é um “jovem jornalista” passando já dos oitenta, com experiência profissional respeitável e contador de estórias memoráveis, jocosas e por vezes, inacreditáveis... Há cerca de uma década, namorava uma senhora que apesar de aparentar um pouco menos de idade que ele, já é bisavó. Muitos caminhantes do calçadão fazem uma pausa para divertirem-se, escutando-o. Depois de algumas cenas públicas de ciúme, protagonizadas pelo casal, resolveram oficializar a relação. Seria armado um toldo na areia, caso houvesse ameaça de chuva. Ali, existe uma rampa que dá acesso à areia. Todos os frequentadores do local se conhecem. Relacionam-se, em geral com bom humor e carinho. Uma barraquinha volante vende abacaxi e empresta “apoio de guarda” às sacolas das “meninas da praia”, quando estas se encorajam para entrar no mar. A princípio veiculou-se o boato de que o Pastor, celebrante do casório, chegaria à praia a bordo de uma jangada. Esse fato não veio a acontecer pois as manhãs estavam nubladas e os ventos poderiam atrapalhar a pretensa curta navegação.

No dia e hora marcados, cheguei pontualmente, vestida de modo esportivo. O cenário já estava armado. Uma mesa ostentava o majestoso bolo branco ornado com flores de glacê na cor das rosas. Outra mesa, também armada sobre a areia, estava cheia de frutas da época, cortadas em pedaços e espetadas por palitos, para facilitar o serviço. Abacaxis, melões, mamões e melancias disputavam espaço com fatias de bolo de rolo e brigadeiros. Salteadas, caixas de sucos de frutas alertavam que não haveria brinde alcoólico. Bancos e cadeiras de praia formavam um círculo em torno dessas mesas.  Penetras ocasionais logo se chegaram, curiosos e tentados a usufruir do banquete. Outros queriam saber se havia algum golfinho, ou tartaruga, que o mar rejeitara por estarem feridos, casos já registrados anteriormente no local. Logo se formou uma multidão. O sol foi esquentando. Não havia assentos suficientes. Houve um discreto reboliço causado pelo receio de que o glacê do bolo se derretesse. Mas isso não aconteceu apesar do discurso prolongado do pastor. Engessado, dentro de uma camiseta de mangas longas e bermuda sustentada por um suspensório, o celebrante segurava a Bíblia com a mão direita e, talvez por força do hábito, mantinha, na mão esquerda, a aba de um boné com a concavidade disponível para receber uma dádiva, caso alguém resolvesse ter a feliz iniciativa. O público presente era diversificado, com uma ligeira predominância de mulheres. 

Os comentários paralelos não paravam de acontecer. Aí, deu-se a inadequação do conteúdo do discurso: Em alto e bom som dizia o homem de Deus: “O Macho foi delegado pelo Altíssimo a prover as necessidades da mulher. Dotado de toda a criatividade, ele seria ajudado pela fêmea a qual, por sua vez, deveria lhe jurar submissão”. Seguia com alegações explícitas de homofobia. Exaltava a Bíblia como proclamadora da heterossexualidade, sendo a única possibilidade justificável da satisfação carnal. Cochichos proliferaram-se. Homens diziam: “Vou gravar esse discurso para transmiti-lo a minha mulher”. Outros murmuravam, entre os dentes: “Em que época esse pastor está vivendo? Nem Jesus Cristo era tão rigoroso...” As mulheres revoltavam-se com a humilhação. Aos poucos, sorrateiramente, foram se aproximando da mesa de quitutes, pois a maioria comparecera em jejum, dada a precocidade da hora matinal anunciada para a celebração. Todos estavam famintos, sedentos e afogueados. A princípio, faziam pequenas incursões aos alimentos para em seguida, disfarçadamente, afastarem-se. Contudo, antes mesmo de ter sido dada por encerrada a cerimônia, a comida voou. Aí, resolveram partir o bolo. De imediato, formou-se uma fila. Mas, já não havia mais pratinhos de plástico, para servi-lo.  Encorajaram os convivas a pegar guardanapos e copinhos no quiosque. Na turbulência que se criou, ninguém se lembrou de guardar um pedacinho de bolo, que fosse, para o dono do quiosque que de tão antigo no lugar já estendeu as funções do atendimento à segunda geração da família. Não restam dúvidas de que foi uma solução criativa, achada pelos nubentes, em tempos de celebrações caríssimas em que os casamentos atuais se transformaram. Porém, um pouco mais de cuidado na escolha do celebrante não faria mal. E fica um alerta quanto à escolha dos convivas: É arriscado convidar-se um escritor! O tiro poderá sair pela culatra. Um cronista sempre estará atento às circunstâncias pitorescas de um evento. Pois, é de lá que ele absorve matéria-prima para as suas “criações ficcionais”! 




1817 - A REVOLUÇÃO DO FUTURO

Como parte das comemorações em homenagem ao Bicentenário da Revolução Republicana de 1817, a regional pernambucana convida para a palestra a ser mnistrada por José Nivaldo, no próximo dia 6 de março. 












24 fevereiro, 2017

MOLTO AGITATO

Por:
Helio Moreira
Regional GOIÁS
E-mail: drhmoreira@gmail.com













Infelizmente não tenho conhecimento musical suficiente para discutir o assunto ópera, porém, sempre que posso, procuro assistir uma ou outra apresentação; desta vez não foi diferente, aproveitamos (Marília e eu) nossa estada em Nova York e fomos tentar assistir “Anna Bolena”.

Disse-o bem, fomos tentar, porque na verdade não conseguimos ingressos, embora tenhamos usado todas as artimanhas possíveis para consegui-los; ao chegarmos às bilheterias do “Metropolitan Ópera” informaram-nos que os mesmos já estavam esgotados, porém, se tivéssemos paciência e, sobretudo um pouco de sorte, poderíamos tentar a fila da lista de espera, na expectativa de desistência de alguém.

Enquanto aguardávamos, felizmente sentados em confortáveis poltronas, encontrei um livro na livraria do teatro que me chamou a atenção; comprei-o e iniciei a sua leitura; tratava-se do relato da escritora Johanna Fiedler, cujo título, “Molto Agitato” e a leitura do seu prólogo, deixavam claro a intenção da autora: contar fatos pitorescos ligados ao mundo dos cantores, regentes de orquestras, produtores e dirigentes do “Metropolitan Ópera”, desde sua fundação em 1880.

Na volta, aqui no Brasil, continuei a ler o intrigante livro, cuja autora havia trabalhado por quinze anos junto à administração do teatro; portanto, tinha muito conhecimento dos bastidores como se pode observar nesta passagem em que ela fala a respeito da personalidade de Pavarotti:


“Pavarotti era temperamental e nervoso, algumas vezes agia como criança birrenta; chegava ao Metropolitan com a sua secretária, sua nutricionista e quase sempre com dois agentes de imprensa que o assessoravam, cumprimentava poucas pessoas e se dirigia para o camarim de onde saía apenas para cantar; algumas vezes cancelava apresentações na última hora; não era respeitoso com seus colegas, aconteceu mais de uma vez, no meio de um dueto de amor, ao sentir sede, caminhava para fora do palco para buscar água, deixando a soprano em pânico”.

Por ter muito interesse em assuntos sobre a 1ª. guerra mundial chamou-me a atenção, sobremaneira, o capítulo que ela dedica a este acontecimento e sua repercussão sobre o funcionamento do teatro; leiam comigo, resumidamente, o que ela diz: “Antes dos Estados Unidos entrarem na guerra em 1917, Giulio Gatti, o diretor geral do Metropolitan vinha recebendo pressão, que ele resistia, para cancelar as óperas alemãs que estavam programadas e dispensar os artistas oriundos daquele país, porém, após a declaração de guerra, ele não conseguiu, embora tentasse, que as apresentações da ópera “Parsifal” do compositor alemão Richard Wagner não fosse interrompida, tendo em vista a xenofobia contra os teutônicos que passou a imperar nos Estados Unidos”.

É de se salientar, no entanto, que a imprensa, neste e em outros episódios semelhantes, tenha se colocado do lado do diretor com o argumento que infelizmente não prevaleceu, de que Bach, Wagner, Beethoven e Brahms se colocam no mesmo patamar da cultura mundial que Shakespeare e Dante; sequencialmente, entre 1917-1918, cerca de quarenta e cinco óperas de autores alemães foram canceladas.

Por esta mesma ocasião o Metropolitan recebeu ordem do governo americano para deixar o teatro às escuras uma vez por semana (às segundas-feiras), no sentido de economizar combustível; como este dia da semana era considerado o de maior impacto social, houve enorme resistência do público; embora os americanos fossem patriotas e mesmo xenófilos, não aceitaram que a guerra tivesse interferência na sua vida social.

A primeira guerra mundial terminou no dia 11 de novembro de 1918, coincidentemente no dia em que, adrede programado, abria-se oficialmente a temporada de óperas do Metropolitan; Giulio Gatti, naquela época o diretor do teatro, programou para esta apresentação a ópera “Sansão e Dalila”, sob a regência do maestro francês Pierre Monteux; Enrico Caruso foi o tenor e Louise Homer a soprano; era a triunfal homenagem à França vitoriosa na guerra.

Antes de concluir este texto, acredito que alguns leitores podem estar se perguntando: eles conseguiram os ingressos? Infelizmente não, porém, fomos informados que naquela mesma noite, em plena “Times Square”, na Broadway, o espetáculo seria transmitido ao vivo, direto para três enormes telões montados ao ar livre; é de surpresar o cético emperdenido. Sentamos em confortáveis cadeiras adrede colocadas em plena praça, na companhia de mais de três mil pessoas e assistimos, estupefatos, sem nada gastar, a maravilhosa exibição.

Foram quase três horas que ficarão inolvidáveis nas nossas lembranças, pois vivemos, juntos com o público que estava ali, todas as emoções da “avant premiére” de Ana Bolena, com aplausos, vozes em grita (bravos! bravos!) nos intervalos, como se estivéssemos no interior do Metropolitan
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O ENREDO DA ÓPERA (2 atos) prende a atenção do público assistente até o último minuto:

O rei da Inglaterra, Henrique VIII (1536), não mais ama sua esposa Anna Bolena e procura o amor de outra mulher (Giovana) e para poder se desvencilhar de Anna, "inventa" que ela tem um amante e traz para dentro do Palácio um seu antigo namorado (Lord Percy), que havia mandado buscar no exílio; Henrique VIII pede que ela seja julgada pela Corte de Justiça. Anna é abandonada pelos seus seguidores e fica isolada no Palácio e se queixa ao rei sobre o tratamento a que está sendo submetida e este a acusa de traição amorosa.

Lord Percy, na tentativa de salvar Anna, inventa que os dois ja eram casados e, com isto, o casamento do rei com Anna torna-se nulo e os dois são levados para a prisão. O Conselho de Justiça condena Anna à morte.

O "Gran Finalle" um coral canta em louvor ao rei que está se casando, enquanto Anna caminha com passos firmes para o suplicio da execução.






23 fevereiro, 2017

A SOMBRA NA DANÇA DO UNIVERSO

Por:
Alcione Alcântara Gonçalves
Regional SÃO PAULO
E-mail: alcione.ag@hotmail.com








O Sol deita-se no horizonte e os raios afogueados, matizados de púrpura, amarelo e arroxeados, produzem um quadro deslumbrante, diante de nossos olhos.A penumbra se avizinha, diante do ocaso do nosso Astro Rei.

Enquanto desce o Sol no horizonte, a borda do globo terrestre vai, aos poucos, interceptando os raios solares, projetando uma sombra na abóbada celeste que, pouco a pouco, vai escurecendo até se transformar numa noite escura.

A negritude da noite, como num passe de mágica, de repente se ilumina e, em todo o hemisfério celeste, surgem luminares que cintilam, enchendo o céu de milhares de pontos luminosos, irradiando suas luzes:vermelhas, amarelas, brancas, azuladas e d´outros matizes, indicando a presença dos Sois e constituindo os sistemas solares de nossa Galáxia.

A Via Láctea, com seus numerosos braços espiralados, salpicados de Estrelas, Planetas, Globulares, Nebulosas e um Buraco Negro no seu centro, uma grande compactação de matéria, dotada de uma extraordinária força gravitacional,  atraindo tudo que passa por perto, incorporando-o à sua massa. Até a luz é atraída, coagulada e transformada em matéria densa.

A sombra, a escuridão e a noite eterna, predomina neste “Buraco Negro”, porque a atração gravitacional é tão grande que condensa a poeira das estrelas, as nebulosas, galáxias e as luzes dos seus numerosos sois, transformando numa massa compacta e escura.

Os Eclipses, são interceptações da Luz solar, pela Terra ou Lua, projetando um cone de sombra, sobre o nosso planeta ou nosso satélite. A depender da incidência dos raios solares e da distancia em que a lua se encontra do sol, poderá projetar um cone de sombra que cobre totalmente  a Terra, produzindo o Eclipse Total do Sol. Se a Lua estiver mais afastada do Sol e, a incidência da radiação solar estiver na mesma tangente ou seja: Sol, Lua e Terra alinhados tangencialmente, forma-se um cone de sombra, que cobre parcialmente a Terra e temos o Eclipse Parcial do Sol. Nestas mesmas condições, mudando apenas o alinhamento dos três astros:Sol, Lua e Terra, a incidência , em vez de perpendicular, agora é inclinada, o cone de sombra sobre a terra, também será parcial e um Eclipse parcial se forma.

Ao invertermos a posição da Lua, colocando a Terra como obstáculo sombreador, é esta que vai projetar  o cone de sombra sobre a Lua, formando os Eclipses Lunares: Totais e parciais, nas mesmas condições já descritas para os eclipses do sol.

Tudo isto, compõe a dança do Universo: este bailado sincrônico, temporal, sazonal e eterno, de todos os corpos celestes, componentes deste corpo de “ballet” da Grande Companhia Universal .

A sincronicidade dos movimentos de rotação e translação, marcam o ritmo desta dança no grande palco das galáxias.

As Estrelas, através de suas reações atômicas , produzem Luz, brilho e iluminam o grande palco galaxial, onde Planetas, Satélites e Luas, dançam suas valsas nupciais , numa demonstração de paz, alegria e respeito em relação ao grande Maestro que, com sua batuta, rege e comanda toda esta Orquestra e todo este Corpo de Baile, com destreza e precisão, buscando a perfeita afinação dos instrumentos, para que a música não fique semitonada; orientando os seus bailarinos, para que não errem o passo, evitando choques com os colegas, produzindo assim o espetáculo perfeito da Natureza, que agradece ao seu Maestro e seu Criador, pela oportunidade de participar desta dança universal.

Agradece também, pela Luz, que ilumina e aquece e pela Sombra, produzida pelos movimentos rotacionais planetários, criando um Ciclo de Luz e Sombra, Dia e Noite, indispensável para a nossa vida neste planeta Terra.

Sombra que significa noite, noite que significa mistério, mistério que revela  a alcova das Nebulosas, o Berçário Estelar, donde sairão as novas Estrelas que continuarão iluminando e participando da  grande Dança do Universo.


22 fevereiro, 2017

PLÁGIO

Por:
Por Meraldo Zisman
Regional PERNAMBUCO










Palavra que voltou à moda com relação à sabatina de candidato a magistrado da Suprema Corte

Plágio é a ação de copiar obra alheia. O hábito da leitura é fundamental para quem escreve, além de ser um dos entretenimentos preferidos dos escritores. Samuel Johnson (1709-1784), o grande lexicógrafo dizia: “uma pessoa revira metade de uma biblioteca para escrever um livro”. 

Não poucas vezes um escritor cita, sem perceber, algo que não é dele e que incorporou como seu. O plágio tornou-se frequente depois da difusão do livro impresso. Leis para proteger o trabalho intelectual foram criadas a partir do século XV na Itália: o arquiteto Filippo Brunelleschi (1377 1446), construtor da cúpula da Catedral de Florença, a mais alta construída no período, patenteou seu projeto.   Ao tornar a cúpula mais pontiaguda, conseguiu que ela ganhasse mais altura, além de aumentar sua resistência às forças laterais dos ventos. A Lei dos Direitos Autorais britânica, promulgada no ano de 1710, foi logo adotada por vários outros países. Assim a Convenção de Berna (1886), a convenção Universal de Direitos Autorais (Genebra, 1952), juntamente com a Convenção de Estocolmo, estabeleceram protocolos de patentes que serviram de base para a criação da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (1967), sendo que a Diretriz de Bases de Dados da União Europeia, aprovada em 1996, foi ultrapassada pelo aparecimento da Internet.

Na Roma Antiga, alguém que roubasse um escravo de outrem era denominado de “plagiarius” e parece que foi o poeta Marcial quem primeiro aplicou o termo plágio ao ato de copiar ou imitar obras alheias. Desde a mais remota Antiguidade os processos ou acusações de plágio estiveram presentes nas praças e tribunais. Já em Atenas, Eurípides e Platão foram acusados de roubar ideias de outros filósofos.

As culturas de Atenas e Roma eram intensamente competitivas, fato que não surpreende, e foram numerosas as acusações de plágio desde a Época Clássica.  Na Idade Média essas acusações eram raras, porém dizem que São Tomás de Aquino (1225-1274), italiano, teólogo e religioso cuja doutrina é considerada fundamental para o pensamento católico, não ficou livre da acusação de ter plagiado as ideias de Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo do Platão.

No Renascimento, os dramaturgos eram acusados de plágio, não fugindo desta pecha o próprio William Shakespeare, pois na realidade o “Hamlet” e o enredo de “Romeu e Julieta” foram baseados em lendas conhecidas.

O mundo da ciência não está imune a essas acusações. Assim, no final do século XVII os seguidores do matemático inglês Isaac Newton (1643-1727), afirmaram que Gottfried Wilhelm Leibniz. (1646-1716), filosofo e matemático alemão plagiara os princípios do cálculo diferencial enunciados por Newton. No universo das ciências humanas, passou-se a usar notas de rodapé a partir do século 17, como prova de consulta a outros pensadores. Muitos escritores não o faziam, fosse por esquecimento ou má fé. Os impressores (numa tentativa de coibir o plágio) começaram a incluir o retrato dos autores nos livros, como se conhecer a aparência de uma pessoa facilitasse ou garantisse a originalidade do que ela havia escrito. O espanhol Camilo José Cela, Nobel de Literatura de 1989, está sendo investigado “post-mortem” por um tribunal de Barcelona, sob a acusação de plágio. Se sempre foi difícil legislar a respeito de plágios, agora com a Internet o problema se tornou ainda mais complexo.

*** 
O poeta Fernando Pessoa ao declamar: Navegar é preciso/Viver não é preciso –seria um plagiador? Nas bandeiras da Liga Hanseática estava escrito o seguinte lema em latim:
                             (‘Navigare necesse est, vivere, non necesse’).

Devo recordar que a LIGA HANSEÁTICA foi uma confederação mercantil das cidades do norte da Alemanha. Originou-se de duas antigas confederações das cidades de Colônia e Lübeck, existentes no século XII. No séc. XIV, os membros dessas ligas passaram a compreender outras cidades alemãs situadas nas costas dos mares Báltico e do Norte. A herança mais positiva deixada pela Liga Hanseática foi o sistema de estatutos reguladores do comércio marítimo. A Liga dominou o comércio de peles com a Rússia, o comércio de peixe com a Noruega e a Suécia, e o comércio de lã com Flandres.

Hoje ela seria classificada com empresa multinacional. Em 1370, o rei dinamarquês tentou acabar com o poder da aliança, fechando o canal que leva ao Báltico. Uma esquadra hanseática tomou Copenhague e impôs um rígido tratado de paz à Dinamarca. No séc. XVI a Liga Hanseática entrou em decadência, acentuada pela guerra dos Trinta Anos. O contexto empregado por Fernando Pessoa é muito diverso do lema econômico-guerreiro de uma empresa mercantilista.

*** 
“A morte de qualquer homem me amesquinha, porque faço parte da humanidade; por isso, nunca mandes saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti “ John Donne (1573-1631). Foi esse o trecho que Ernest Hemingway utilizou para título do seu: Por Quem os Sinos Dobram. Seria o prêmio Nobel de literatura e um dos maiores escritores do século passado um mero plagiador?

A trágica história de Romeu e Julieta é da autoria de certo Arthur Brooke, que a baseou numa lenda folclórica sobre um melancólico príncipe da Dinamarca chamado Hamlet. Da história de um autor italiano sobre um comandante mouro e a mulher, Otelo o Mouro de Veneza e sua desventurada esposa Desdêmona, que ele mata injustamente por ciúme, nasceu o Otelo de Shakespeare. E da crônica de um historiador sobre reis escoceses, entre eles Macbeth, Shakespeare escreveu o seu, homônimo, com o aproveitamento integral de grandes partes do texto e até de outra peça.

A verdadeira história do Rei Lear e suas três filhas é de autoria desconhecida, mas tenho minhas dúvidas se permaneceriam como lição de vida se não fosse pelo teatrólogo William Shakespeare. Além de frequentemente se inspirar em Ovídio e Plutarco, Shakespeare aproveitava tramas e personagens e às vezes trechos inteiros de outros autores.

Já o livro do escritor Quentin Reynolds, autor de Guerra no Ar – Cia Editorial Continental, S. A. México D. F adverte quanto ao perigo da acusação de plágio.
“(…) alguns de meus escritos. Fico preocupado com o pensamento de que o que escrevi seja ou não de minha autoria, ou apenas uma bricolagem. Tomei o pensamento de várias pessoas. Esta não é uma desculpa, é uma explicação. Agradeço a eles terem me ensinado tanto”


Portanto, muito cuidado devemos ter ao acusar alguém de “plagiarius”.
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(artigo veiculado originalmente em: CHUMBO GORDO.COM.BR )
Transcrito neste BLOG com permissão e por solicitação do autor.


21 fevereiro, 2017

A VIDA É QUASE CINEMA

Por:
Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
E-mail: josyannerita@gmail.com










Qual será o desfecho do filme que iniciamos há cinquenta dias? Sabemos quem são os protagonistas, os coadjuvantes e a época em que a trama se desenrola. Exibiremos um musical, uma aventura, um drama, ficção, comédia ou cinema de arte?

Caminhamos nosso destino abrindo veredas de possibilidades, ora seguindo contentes, ora ressabiados com os reveses. A andança é cheia de surpresas, mas também recheada de eventos previsíveis ao alcance da mão e da escolha. O espetáculo descortina um mundo de acontecimentos rápidos e de sequências dinâmicas, onde falta fôlego e sobram cenas. São muitos cenários, muitas falas, muitos acontecimentos.

Quase estávamos no ontem quando o amanhã chegou, trazendo o início do ano letivo e as folias de Momo. O ritmo célere dos veículos nas ruas, o calor a encharcar as roupas e o fim do horário de verão sinalizam que a vida começa a mudar seu aspecto para outro momento, contrastando a sutileza de suas mudanças com a passividade contrita de que quase tudo inevitavelmente permanecerá igual. As promessas das festividades do final do ano anterior se vão exaurindo com as altas temperaturas, deixando para depois tudo o que pretendia acontecer. Em comum? O tempo que passa.

Mergulhados na projeção da nossa história, em câmara lenta observamos o tempo desprender as folhas da bela árvore da vida, e a trilha sonora de compasso lento nos remete às questões íntimas que teimam em incomodar. Se a sequência seguinte for ágil e cheia de felizes expectativas, pouco importa o que trará a próxima cena, imersos que ficamos no êxtase da alegria, ensurdecidos aos apelos fora de nós.

Ansiosos e vorazes, devoramos nossas pipocas metamorfoseadas em bebidas, relações frágeis e consumismo desvairado, fazendo ecoar nosso barulho mastigatório de incisivos e caninos selvagens no entorno de quem deseja o silêncio, ignorando os papéis secundários do enredo comum.

O ar refrigerado da sala de projeção vez por outra se traduz na lágrima que alivia nosso olhar, na maior parte do tempo coberto pela névoa da indiferença. A escuridão que convida à paz interior recebe os golpes das lanternas de celulares, cujos apitos sonoros avisam que o tempo não é mais uma questão abstrata, mas de curtição, comentário e compartilhamento. E a polarização dos discursos nos diz que as cortinas da sala de espetáculo não podem ser vermelhas nem azuis.

Na sala de projeção desse tempo sobre a terra, a vida é quase cinema que enreda sonhos e vida real. Que ao menos seja uma história interessante, plena de arte e de momentos vividos com genuíno interesse, oferecendo oportunidade para cenas de romance e alguns intervalos para o adeus.

Eis o espetáculo do viver eloquente, bem ao gosto dos poetas: festejar o amor e a vida antes do início... lamentar a finitude antes do grande final. No recheio, memoráveis interpretações e cenas antológicas, um filme de intensidade. E o Oscar vai para quem?

Que o Blog da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES seja rara e preciosa película, onde possamos contar nossa história e exibir nossos artistas, esses artífices das palavras que difundem e valorizam a beleza nostálgica de todos os cenários que adornam a vida, tornando-a uma experiência cinematográfica de foro íntimo, grande subjetividade e compartilhamento mútuo.

Josyanne Rita de Arruda Franco
Presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES


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