10 fevereiro, 2017

DONA INÊS DE CASTRO: NO SOSSÊGO DE ALCOBAÇA

Por:
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Regional CEARÁ
E-mail: marcelo.gurgel@uece.br













O Ano Inesiano da Cultura promove uma série de eventos importantes em celebração dos 650 anos de morte da figura mítica de Inês de Castro, tão bem decantada no episódio narrado por Camões, no Canto III, do poema épico “Os Lusíadas”, tornando-a uma das mais célebres personagens da História portuguesa, conforme versejou o notável vate:

“As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são água e o nome amores.”

A consulta ao sítio eletrônico (www. pedro-ines.com), que explicita a programação traçada, dá acesso à emblemática logomarca, de uma beleza singular, onde dois corações vermelhos, lado a lado, fundem-se parcialmente, e de cada um de seus vórtices brota uma pequena lágrima preta, ambas encimando os nomes em letras góticas: Pedro e Inês, tendo por conjunção aditiva uma cruz, com trava e haste compostas por minúsculas lágrimas negras e a intercessão delas assinalada com a singela figura cordiana encarnada.

Era bela, doce, apaixonada, triste, ... tirada brutalmente do seu sossego, assassinada na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, por razões de Estado. Foi protagonista de uma das mais belas estórias de amor da humanidade em todos os tempos, tendo sido vítima da aristocracia lusitana, que temia pelo fim de sua monarquia, quando Pedro, o príncipe herdeiro e seu amado, assumisse o trono, pois, sendo ela de origem castelhana, poderia influenciá-lo no sentido da re-anexação portuguesa ao reino de Castela.

A destruição física de Inês não cessou o imorredouro e arrebatador amor de Pedro que perpetrara, na sequência, uma vingança incomum, cabendo-lhe, com as próprias mãos, matar, um a um, os assassinos de sua dileta amada, a exceção de um deles que o infante precisou encomendar a execução em Paris, onde o facínora encontrava-se homiziado. Não menor foi o seu gesto revanchista, ao exumar o corpo de sua ducílima Inês e colocá-lo no trono de Portugal, obrigando a nobreza “portucalense” a reverenciá-la e a beijar-lhe as mãos, sacramentando-lhe o reconhecimento como “a que foi rainha depois de morta”.

Em uma atitude tardia, porém terna, os corpos de Pedro I e sua Inês repousam hoje na mesma igreja, no Mosteiro de Alcobaça, em sarcófagos marmóreos, que foram violados pelas tropas napoleônicas, comandadas por Junot, quando Portugal foi ocupado, após a fuga de D. João VI e da realeza portuguesa para o Brasil; os belos arranjos esculpidos nas urnas funerárias foram mutilados pelos soldados franceses que esperavam ali achar ouro e pedrarias preciosas, e não apenas os restos mortais do inditoso casal.

D. Inês de Castro é o mito revificado. A estória de Inês e de Pedro é, seguramente, a maior narrativa portuguesa de encontro e desencontro que se filia no conjunto mais amplo das tragédias de amor, reais ou lendárias, da Europa (Abelardo e Heloísa, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, dentre tantas). O descanso em paz de seus restos mortais, no sossego monástico de Alcobaça, merece, realmente, ser observado; contudo, a sua memória precisa ser cantada, para preservar a imortalidade de sua lembrança nas gerações vindouras.








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