27 fevereiro, 2017

LAURO MAIA - UM POETA QUE TAMBÉM É RUA

Por:
José Maria Chaves
Regional CEARÁ

















"Deus reprova os arrogantes
Pois, para engano de alguns,
Sempre esconde os diamantes
Entre as pedras mais comuns."

Pois bem, com esta trova desejo retratar Lauro Maia Teles - como poeta e compositor – senão a nossa maior expressão litero-musical, seguramente, um lapidado e burilado diamante, postado de forma humilde entre grosseiras pedras.

Lauro Maia nasceu na casa de nº 1966 do Boulevard Visconde de Cauype, atual Avenida da Universidade, em 06 de setembro (Cartório João de Deus) ou 06 de novembro (Verbum ad Verbum) do ano da Graça de 1913. Filho do odontólogo Antônio Borges Teles e da professora de piano Laura Maia Teles.

Seu aprendizado musical certamente se inicia no berço, com sua mãe e, já aos 10 anos de idade, vestindo calças curtas, substituía o pianista oficial do Cine Majestic. Além de exímio ao piano, dedicou-se,outrossim, ao estudo da flauta e do acordeom. Como acordeonista foi o mais jovem integrante da orquestra da PRE-9 regida pelo maestro Euclides Silva Novo. Na pioneira emissora de radiodifusão do Ceará, logo assumiu o cargo de Diretor Artístico e já era um festejado compositor. Enquanto criança esteve matriculado no Colégio Marista e, adolescente,  transferiu-se para o Liceu onde cumpriu todo o resto da programação ginasial e do científico. A essa altura da vida, já era frequentador da roda boêmia de Fortaleza e, pelo menos duas vezes na semana, acompanhado do seu amigo e parceiro – notável violinista – Aleardo de Freitas, fazia serenatas, conquistando amores diferentes pelos desempenhos poéticos e românticos de suas composições.

Aos 25 anos, bacharelando em direito, compõe a “Valsa do Rubi” para a cerimônia de formatura que, disseram as línguas ferinas, não compareceu por haver esquecido a hora, enquanto festejava, em um bar, bebendo com alguns amigos.

Seu nome, já consagrado como compositor musical, letrista e arranjador, constou da lista negra dos Integralistas de Petrópolis, com vários outros cearenses ilustres, entre os quais o Dr. Bié eo Professor Cláudio Martins.

Em 1940, após dois anos de namoro, casou com Djanira, irmã de Humberto Teixeira (que, por residir no Rio de Janeiro, embora cearense de Iguatu, não o conhecia pessoalmente).Em junho de 1942 nasceu sua primogênita, Eva, e em dezembro de 1943 veio ao mundo Lauro Filho, já residindo na antiga Capital da República (Rio de Janeiro). De principio entregava suas composições para a interpretação e gravação pelos Vocalistas Tropicais e/ou 4 Ases e 1 Coringa. Dentre as muitas gravações do início, poderia citar o batuque “Eu vi um leão” e a marcha “ Eu sei o que é”, além dos sambas “Eis o meu samba” e “ Nosso cruzeiro”. Com os “Vocalistas Tropicais” – vitorioso e harmonioso conjunto cearense – lançou um novo ritmo,o balanço,com a música “Balancê” -“oi balancê, balança/balança pra lá e pra cá/ eu vou até de manhã só nesse balanciá”. Com o sambista Ciro Monteiro, deixou a composição “Deus me perdoe”, que foi gravada -“Deus me perdoe, mas levar esta vida qu’eu levo é melhor morrer...”.

Com Orlando Silva, o cantor das multidões, gravou muitos sucessos, tais como “Febre de Amor”, “Poema Imortal” e “Quando dois destinos divergem” – “Acaso poderás dizer qual de nós é o culpado/ e qual a razão de tudo ter desmoronado/ Nossa vida agora é um verdadeiro caos/ semeada de incrível solidão/ e pontilhada só de pensamentos maus...”.

Em 1942, volta a Fortaleza, conhece e integra a Escola de Samba, que foi batizada com o seu nome. É bom que frise: A Escola de Samba Lauro Maia foi criada pelo músico Canelinha, obviamente para conquistar o compositor que sempre abiscoitava o 1º prémio, disputando pela “Escola de Samba Prova de Fogo”. Em sua criação, a Escola de Samba Lauro Maia contava em suas fileiras com o também pianista e compositor Luiz Assunção. Desde a sua fundação até 1945 a Escola de Samba Lauro Maia sempre foi vitoriosa.  

Passada a época carnavalesca, Lauro volta ao Rio de Janeiro onde se emprega na Firma Irmãos Vitale – Editor de Música - e também foi contratado pela Rádio Tupi, como arranjador e orquestrador dos variados temas musicais dos seus programas de estúdio. Além desses dois estafantes encargos, ainda firmou expediente noturno – como pianista – com o Cassino Atlântico. Fumava muito, bebia em demasia e se alimentava pouco e mal. Confessava para seus amigos de boemia, especialmente Chiquinho da Lapa, seu quase irmão, que morria de saudades da sua terra. Com esse sentimento de ufanismo, compôs:“Eu bem sei que é bem nosso/ o orgulho de um gesto que eleva e seduz/ um gesto altaneiro de audaz jangadeiro/ mandando que todo navio negreiro/ passasse bem longe da Terra da Luz”.

Em 1947, ano de sua última visita a Fortaleza, já com a saúde gravemente abalada, os dois pulmões invadidos pela tuberculose, teve de retornar ao Rio para um internamento no Hospital Santa Maria em Jacarepaguá, famoso por recuperar pacientes tísicos. Debalde foram os esforços. No dia 05 de janeiro de 1950, por coincidência data do trigésimo quinto aniversário de Humberto Teixeira, às vinte horas e trinta minutos, Lauro Maia faleceu.

Em 1952 - e eu estava lá - o samba intitulado “Lauro” foi cantado e chorado por todos nós, no desfile de carnaval da Escola de Samba Luiz Assunção:

“Lauro, eu vim lhe homenagear
Ah, se você fosse vivo
Pra ver sua escola passar,
Oh Lauro!’’.


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