12 março, 2017

O HERÓI DO AMAPÁ




Por:
Alfredo Pereira da Costa
Regional PARÁ
E-mail: alfredo38.pereira@hotmail.com
















Francisco Xavier da Veiga Cabral – o Cabralzinho – foi o defensor da nossa fronteira no extremo norte do Amapá, onde ocorreu o episódio da invasão francesa ao comando do capitão-tenente Lunier e repelida pelos liderados de Francisco Xavier da Veiga Cabral.

O município de Amapá está profundamente ligado à formação histórica do Estado do Amapá. Foi na pequena Vila do Espírito Santo do Amapá que no dia 15 de maio de 1895 as tropas francesas, vindas de Caiena, sob o comando do capitão Lunier, desembarcaram da Fragata Bengali para assumir a posse da área compreendida entre os rios Araguari e Oiapoque, chamada de “Território Contestado”. E foi aqui que os brasileiros resistiram vitoriosamente, sob o comando de Francisco Xavier da Veiga Cabral - o Cabralzinho – como era conhecido. Este foi chamado à presença do capitão Lunier e, ao invés de se render à voz de prisão, desarmou o oficial francês, abatendo-o com a própria arma que portava.

Os franceses tentaram vingar a morte de seu comandante, mas encontraram reação por parte de Desidério Antonio Coelho e Epifânio Pedro da Luz e outros bravos patriotas, que embora em número de quatorze (14) travaram a luta. Como a munição era pouca e os invasores numerosos, nossos patriotas se refugiaram na mata, onde já se encontrava Cabralzinho.

Os franceses aproveitaram a ocasião para fazer um massacre dos brasileiros. Trinta e oito (38) brasileiros foram mortos, entre homens, mulheres e crianças. Os franceses incendiaram e saquearam as casas. Os invasores perderam seis (6) soldados e tiveram outros vinte e dois (22) feridos.

Temendo a baixa da maré, os invasores abandonaram a vila, levando seus feridos e dois (2) prisioneiros: João Lopes e Manoel Gomes Branco.

Tal acontecimento, ocorrido em 15 de maio de 1895, trouxe como consequência para o Brasil e França a vontade de conseguirem uma solução definitiva para o problema de suas fronteiras. Os dois países resolveram, de comum acordo, submeter o caso à imparcialidade de um árbitro neutro, sendo escolhido o presidente da Suíça.

Para defender a causa brasileira foi escolhido o diplomata José Maria da Silva Paranhos, também conhecido como Barão do Rio Branco. Este, baseado nos documentos contidos no livro “Do Oiapoque ao Amazonas”, de Joaquim Caetano da Silva, escrito e publicado em Paris, conseguiu brilhante vitória para o Brasil, com a assinatura do “Laudo de Berna” (ou Laudo Suíço), no dia 1º de dezembro de 1900, o qual dava ao Brasil o direito definitivo de posse da área contestada. Assim, com a vitória do laudo suíço a extrema área fronteiriça foi anexada ao Brasil (Estado do Pará, àquela época).

Afinal, quem era Francisco Xavier da Veiga Cabral? Onde nascera? Francisco Xavier da Veiga Cabral – o Cabralzinho – nasceu em 5 de maio de 1861, em Belém,  capital da então Província do Grão Pará. Era filho de Rodrigo da Veiga Cabral e de D. Maria Cândida da Costa Cabral. Casou-se com D. Altamira Valdomira Vinagre da Veiga Cabral. Desse matrimônio nasceram as filhas Valdomira e Altamira. Valdomira casou-se com Oscar Franco. Altamira casou-se com Alcindo Cacela (nome de uma avenida em Belém).

Seus pais não eram pessoas de posses e pode-se presumir uma infância e juventude de algo dificultoso, para o futuro herói do Amapá. Seu pai fora Senador da Câmara de Belém.

Veiga Cabral, ainda na juventude, tornou-se comerciante, sendo que o seu estabelecimento comercial era chamado de “Pacão”, por sinal seu primeiro epíteto. Exerceu, também, as funções de escrivão da Contadoria de Rendas do Estado do Pará e despachante da Alfândega, no governo republicano.

Tornou-se conhecido do povo paraense em 1891, quando tomou parte, em posição destacada, da Revolta de 11 de junho, que tinha por finalidade depor o governador do Pará, que era o então Capitão-tenente Duarte Huet Bacelar Pinto Guedes. Apesar de contar com o corpo de polícia, o movimento foi sufocado em poucas horas, pois não seria de toda estranha a idéia de uma restauração da monarquia no Pará.

Mais tarde, Veiga Cabral demonstrou ser amigo dedicado de Lauro Sodré, governador do Pará, ao fundar o jornal denominado “O Patriota”. Entretanto, Cabralzinho passou por muitas vicissitudes, que no final o levariam à morte, pois foi vítima de arma branca de seu assassino, conhecido como “mão-de-seda”. Em consequência desse ferimento veio a falecer em 18 de maio de 1905, com 44 anos de idade.

Com o fracasso da Revolução de 1891, Cabralzinho foi obrigado a deixar a capital paraense, a fim de não ser preso. Nessa sua fuga pelo litoral norte, foi costeando o Oceano Atlântico até chegar aos Estados Unidos da América do Norte. Retornando dessa viagem voluntariamente, se “asila” na antiga Vila do Espírito Santo de Amapá, onde mais tarde torna-se personagem central de um episódio decisivo à final incorporação das terras do “Território Contestado” ao território brasileiro.

Nessa região foram descobertas ricas minas de ouro. A área foi invadida por aventureiros, depois de 1893, entre eles os franceses, que há muito tempo pretendiam a posse dessas terras situadas entre os rios Araguari e Oiapoque.

Em 26 de dezembro de 1894, a população da Vila do Espírito Santo de Amapá resolve proclamar um governo próprio, com a finalidade de coibir a invasão constante do chamado “Território Contestado” pelos governos do Brasil e da França. Foi criado, então, um Triunvirato formado por Desidério Antonio Coelho, Francisco Xavier da Veiga Cabral e o cônego Domingos Naltez.

Cabralzinho, já como presidente desse governo autônomo, mandou prender algumas pessoas que na região das minas estavam perseguindo e maltratando os brasileiros. Entre elas estava o negro Trajano, que embora sendo brasileiro, era o líder dos franceses invasores. O governador de Caiena, sabendo da ação de Cabralzinho, na data de 15 de maio de 1895, manda uma expedição militar se apossar da Vila do Espírito Santo de Amapá e levar preso o presidente do Triunvirato. O valente brasileiro, pequenino no tamanho, mas grande nos seus ideais patrióticos, não permite que o estrangeiro se aposse de seu solo; e, com a rapidez de decisão igual às suas faculdades de execução, Cabralzinho resolveu resistir e, conhecendo a luta de capoeira, abateu o comandante francês Luinier, com uma cabeçada no peito. Ao mesmo tempo, apoderou-se de seu revólver e o descarregou à queima-roupa, com um tiro mortal no oficial francês. Subtraindo-se, num salto para trás, à pressão pela escolta, que estava atônita diante da rapidez dos acontecimentos, Cabralzinho correu para a vila chamando às armas a milícia. Respondeu esta, composta de quatorze (14) homens, dos quais treze brasileiros e um norte-americano.

À vista da superioridade numérica da companhia invasora (120 soldados), armada de fuzil Lebel, e com o fim de evitar que fossem cercados, retirou-se Cabralzinho com sua gente até à orla da floresta, onde se distribuíram todos em atiradores dispersos. A companhia teve que recuar diante dessa guerrilha; e, não sabendo quantos homens se escondiam na floresta, embarcou apressadamente no navio “Bengali”, que a trouxe, e desceu o rio com seus feridos e mortos.

Este acontecimento serviu, mais tarde, para que as autoridades brasileiras e francesas resolvessem, de uma vez por todas, a questão de suas fronteiras, que já vinha perdurando duzentos anos, cuja vitória foi alcançada pelo Brasil em 1º de dezembro de 1900, pela brilhante atuação do diplomata Barão do Rio Branco, integrando definitivamente ao patrimônio do território brasileiro a região situada entre os rios Araguari e Oiapoque.

Em justa homenagem ao seu feito heróico, foi erguida uma estátua de Francisco Xavier da Veiga Cabral – o Cabralzinho – no atual município de Amapá, na praça que também tem o seu nome: “Praça Veiga Cabral”. Em Belém, existe um busto de Francisco Xavier da Veiga Cabral na Praça da Trindade, além da Travessa Veiga Cabral no bairro da Cidade Velha.

Dessa forma, por merecimento, foi resgatada a memória do herói do Amapá.


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