06 novembro, 2017

A ABEL FAGUNDES

Por:
José Carlos Serufo
Regional MINAS GERAIS
E-mail: serufo1@gmail.com    
















Não sei se nada é por acaso
ou se tudo é por acaso...
Mas o acaso de Abel na Sobrames marcou-me
e a todos deixa boas lembranças.

Por um tempo, uma dúvida.
Por que um engenheiro
procurou conviver com uma agremiação
de Médicos Escritores?

Perguntei-lhe um dia e ele me repondeu:
“Foi por acaso e agora é por gosto”
Assíduo às reuniões literárias.
Comedido. Ponderado. Observador. Perspicaz.
Um monge tibetano das geraes.

Abel fez um meticuloso controle financeiro
no XXIII Congresso Brasileiro da Sobrames
Logo, integrou a diretoria, como segundo tesoureiro.
Quando me impus peregrinação,
ele me substituiu por ano e meio.
E assim, nos deixa Primeiro...

Escrevia muito, mas mostrava pouco.
Não sei o que fez com o tudo que escreveu.
Penalizo-me com a dúvida da pergunta que não fiz
não por desinteresse, nem por timidez,
mas por respeito ao silêncio do outro...

Nas últimas reuniões que frequentou em 2017,
tocou por alto na saga da sua doença.
Os sobramistas se colocaram à sua disposição.
Como sempre faço, eu lhe disse:
Espero que não precises de mim... Você sabe, sou intensivista!

Num dia de outubro, acordei pensando nele
enviei-lhe uma mensagem
e seu sobrinho retornou o zap-zap,
dizendo que ele estava com pneumonia,
internado no CTI do Felício Rocho.

Para lá fui, mesmo sabendo que nada iria acrescentar...
Estava entubado e sedado, em Ventilação Mecânica.
No dia que iniciou o desmame do respirador,
pude estar com ele no que seria nosso último momento...

Acordado, lúcido, mas traqueotomizado não podia falar.
Logo que nos vimos nossos olhares brilharam
Não sei dizer quantas mensagens trocaram.
Ele apontou para a traqueostomia para me informar que não podia falar.
Macaco velho, providenciei prancheta, papel e lápis.
Lápis é melhor do que caneta!

Conversamos por escrito
Senti-o animado com sua recuperação
Fez-me perguntas difíceis...
Conversamos sobre futuro, sobre vida e morte.
Eu pretendia ficar com as folhas de papel
que registraram nosso “papo cabeça”
Ele, ladino, se antecipou...
escreveu na última rodada:
“Vou guardar de lembrança. Estou muito,
mas muito feliz com sua visita”
O tempo de desmame havia se prolongado
era para ser de quinze minutos e já passava de meia hora.
A saturação de O2 em 94% e os dados estáveis
davam segurança para o prosseguir.

Escrevi por baixo:
“Então, você fica com o papel e eu com a memória”
Fez-me um sinal com dois dedos.
Entendi que ele ficaria com ambos:
o papel e a memória.

Esse momento único, agora retumba
Verte uma saliva grossa que trava o engolir.
Nas chapas de vidro de meu ego
Abel sorri.
A Sobrames encolhe!


      

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