03 abril, 2017

A PELEJA COMO OFERENDA

Por:
Josyanne Rita de Arruda Franco
Regional SÃO PAULO
Presidente Nacional 2017/2018
E-mail: josyannerita@gmail.com









Uma das lembranças mais marcantes que guardo de minha avó materna é do cuidado que ela tinha com as palavras. Quando se expressava, fazia-o de maneira comedida e pontual, sem delongas e usando palavras breves e pertinentes, algumas que eu desconhecia e passavam a fazer sentido imediato no contexto da conversa.
    
Foi assim que passei a apreciar o verbo “pelejar”, que sempre me provocou indescritível alegria antes que eu conhecesse seu significado. A peleja é parte indissociável da trajetória que escolhi seguir, e a insistência para concluir as coisas fez com que eu percebesse só tardiamente as mudanças imperceptíveis ocorridas durante o percurso, oferendas silenciosas e determinantes para o futuro.

Pelejando fui buscar meu destino. Pelejando, abri portas não imaginadas e descobri que é possível realizar sonhos. Aprendi, ensinei, acertei e cometi equívocos, cresci em muitos aspectos de mim mesma e fui apoio (e suporte) para o crescimento de outras pessoas. Fui pessoa comum de atitudes comuns, acostumada a pelejar.

No entanto, chega o momento em que alguns questionamentos nos inquirem sobre a peleja, essa evidência de luta e perseverança que nos arregimenta para a vida.

A manifesta interiorização das pessoas em uma sociedade exibicionista então demanda o questionamento: ainda vale o esforço de insistir em alguma coisa? Será que o desafio que nos sonda vale a luta? Lutamos por uma causa ou por uma coisa?
       
O impulso que nos indica horizontes parece naufragado na maré mansa da acomodação. Por todo o lado é possível ouvir que não tem jeito, que a vida é assim mesmo e que nada vai mudar. Pode ser que seja verdade e que o esmagamento da civilização seja inevitável, nada restando de ética nem senso comum nessa cultura de conflitos tão perturbada pela realidade crua do individualismo e da vaidade.
      
A existência da SOBRAMES está alicerçada no amor pela vida e por tudo o que com a vida se relaciona: tragédias e comédias da história privada estendida ao tecido social. Se na medicina podemos alcançar conhecimento e força para o trabalho árduo em prol da vida que está sob nossa responsabilidade, é na literatura que podemos abandonar nossas defesas, descansar das armas e oferecer trégua à labuta insana que nos consome tempo e vitalidade.
     
Cada regional da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores é um espaço de construção de linguagem, um núcleo organizado que existe em função da cultura literária e tem, por isso, um papel de alcance ampliado. Cada membro associado qualifica e legitima a SOBRAMES, o que o responsabiliza diretamente pelo compartilhamento de sua arte com os pares e com a sociedade, criando condições para que a confraria seja divulgada e conhecida, difundindo cultura.
     
Não é uma tarefa fácil, é uma peleja onde cabe a reflexão: insistir para quê?    
     
O esforço conjunto e necessário à sobrevivência da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES passa pela busca ativa de novos associados, o que só é possível se a inscrevermos em nosso cotidiano de atividades.
     
É valioso o nosso tesouro, mas ele precisa ser cuidado e multiplicado. Na busca de alcançar novos membros, precisamos divulgar a SOBRAMES nas escolas médicas, dentro de ambulatórios e hospitais, em consultórios e para outras entidades literárias. Muitos de nossos sobramistas assim o fazem, empenhados e ousando conquistas que desbravam fronteiras, merecendo nosso reconhecimento e aplausos.
     
Contamos com regionais grandes, bem constituídas, seguindo o estatuto e promovendo reuniões mensais para manter o ânimo e fortalecer vínculos. Outras são menores e perseverantes, lutando para não esmorecer. Temos ainda as regionais que se encontram esvaziadas, com presidentes solitários e desesperançados, solicitando o tão necessário apoio que muitas vezes não acontece de maneira ideal, mas sempre existe.
     
Uma reunião já é possível com duas pessoas; se é agradável, logo caberão três ou quatro. Um dia por mês ou a cada dois meses, um encontro para um café da tarde ou uma pizza à noite... Até em uma conversa entre amigos. Onde houver um médico escritor disposto a restaurar a beleza do cotidiano com um pouco de literatura, fará a SOBRAMES presente.
     
Evidentemente, estatutos são importantes fontes normativas e de diretrizes, mas de nada valerão se estiverem esquecidos sobre a mesa ou no interior de uma gaveta. São os encontros literários as principais e fundamentais atividades das regionais, mantendo acesa a luz da poesia e nutrindo a prosa que rege a vida. É isso que nos faz vibrar enquanto o tempo nos esquece.
     
Trocar experiências, estender a mão aos amigos, apoiar iniciativas, orientar caminhos, permitir o intercâmbio de informações são ações oportunas para todos os sobramistas, não apenas para o membro da Sociedade que está como presidente.
     
Agora é hora do trabalho! Os frutos poderão ser colhidos à frente por aqueles que nos sucederem, mas terá valido a caminhada que oferece futuro à SOBRAMES.
     
A atual presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES está acostumada à peleja, mas não trabalha sozinha. Então, sem lamento nem sombra de desalento, vamos ao trabalho, tornando nossa Sociedade cada vez mais forte e renovada.
     

Sigamos!


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